Sociedade de consumo, alimentação e o futuro!

A falsa necessidade de consumo desenfreado nasceu há muitos anos atrás, em uma época em que aquecimento global nem era pauta. Filha do capitalismo, a sociedade de consumo veio como uma onda desordenada do TER e do PRECISAR TER. Quanto mais melhor. Até meados do século XX, as pessoas baseavam suas aquisições no modelo "quanto mais tempo durar melhor", no qual itens domésticos, roupas e móveis eram passados de geração em geração. Com o advento do modelo de produção fordista e a expansão da obsolescência programada dentro do processo de criação de novos produtos, a mídia só precisou dar aquele "empurrãozinho" nas ideias do capitalismo que estavam surgindo: ter mais do mais moderno possível! A sociedade advinda dessas práticas foi estudada por vários pensadores, sendo um destes o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, que chamava a mesma de "Modernidade Líquida". Esse termo, para Bauman, se referia à ideia de que a sociedade precisava ser tomada por desejos eternamente insatisfeitos para alimentar o sistema capitalista, já que o prazer do "novo" morre logo após a compra, sendo substituído pela frustração e pela compulsão de se querer o próximo "novo". Para o sociólogo polonês: "A economia consumista tem de se basear no excesso e no desperdício. Essa é uma das formas pelas quais esse sistema se reproduz." 
Dentro desse consumismo exacerbado, a alimentação foi uma das ferramentas utilizadas pela mídia, através de propagação de ideias como "mais consumo com menor custo". Sendo o buraco muito mais embaixo, esse alto consumo de produtos alimentícios ditos como "de menor custo", trouxe consigo grandes epidemias de doenças crônicas, tais como obesidade, diabetes, doenças coronarianas, dislipidemias, câncer, doenças renais e outras. Pagamos um alto preço pelo consumo desenfreado de "mais" itens com baixíssima qualidade nutricional. 
E claro, não pagamos sozinhos:
A conta é bem simples - mais produtos industrializados sendo consumidos = mais embalagens que vão para o lixo, poluindo o planeta!
A Modernidade líquida trouxe vários problemas crescentes em todos os âmbitos: depressão, doenças crônicas, sociedade robótica e alienada, lixo e problemas ambientais
Não vou colocar um ponto final pois é óbvio que o problema não acabou aqui
E agora, voltemos ao presente: 07-05-2020 - Pandemia de Covid-19
A sociedade se depara com uma queda na produção de itens NÃO ESSENCIAIS, ficando "à mercê" majoritariamente dos itens essenciais à vida. Então me pergunto: o que é essencial?
Alimentação; Saúde; Segurança; Moradia; Transporte; Água; Esgoto; Energia Elétrica; Coleta de lixo?
O que nós realmente precisamos para sobreviver?
Podemos nos tornar a "modernidade sólida", pautando, de agora em diante, nossas escolhas em qualidade e não quantidade, reaproveitando ao máximo o que temos, desperdiçando menos, pensando no planeta que queremos deixar para a próxima geração. 
O consumo desenfreado não nos torna mais felizes, mais saudáveis nem mais ricos - pelo contrário: nos empobrece como seres humanos. 
No que diz respeito à minha profissão, o consumo alimentar sustentável e saudável pode se basear em algumas ideias como: Adquirir mais alimentos in natura; Desembalar menos e descascar mais; Preferir o produto do pequeno produtor local; Produzir seu próprio alimento ou preparação, ou seja, se aventurar na cozinha e/ou na horta caseira; Consumir todas as partes comestíveis do alimento (cascas, talos, folhas, bagaços), evitando o desperdício alimentar; Pensar no lixo que o produto comprado vai gerar e qual destino vou dar ao mesmo; Se informar sempre sobre o produto ou sobre a filosofia de produção da indústria - ler rótulos, pesquisar como os animais são tratados, uso de agrotóxicos...
Temos muito o que mudar mas temos exemplos do que não fazer e do que adotar como hábito.
A sociedade de consumo fútil e desenfreado pode ser só um capítulo passado da nossa história.

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