Identidade cultural, alimentação e práticas saudáveis

Já parou para pensar o quanto a sua alimentação do dia-a-dia está envolvida por cultura? Desde a escolha dos produtos da "despesa do mês" até o modo como você come ou com quem se alimenta, absolutamente tudo nesse processo está sendo guiado pela cultura da qual você faz parte e pelas suas experiências de vida. No decorrer da nossa existência, desde quando nascemos, estamos nos apropriando de diversas maneiras de pensar e agir as quais têm relação direta com o ambiente em que estamos. Quando digo "ambiente" me refiro a todos os simbolismos, tradições, costumes que o local (seja espaço físico ou situacional) que você vive possui. Isso significa que a nossa identidade cultural, formada ao longo dos anos pelas nossas vivências, influencia diretamente a nossa alimentação.
Por exemplo, imagine um adulto que nasceu e cresceu no meio rural, trabalhando com agricultura familiar, produzindo grande parte de suas refeições com produtos colhidos em seu próprio quintal. Talvez para ele o ato de ir para a cozinha, preparar uma receita de família, sentar à mesa com seus familiares venha de um modo de agir tradicional, com a qual ele teve contato a vida toda, carregado de valores e simbolismos que pertencem somente a ele. 
Dessa forma, podemos compreender que práticas alimentares tradicionais falam diretamente conosco, com nosso emocional e com nossa história. Talvez ao ler "feijoada, canjica, pão de queijo, churrasco, moqueca, farofa de banana, arroz com pequi..." você tenha salivado ou lembrado com afeto dessas preparações típicas brasileiras e isso também é Alimentação Saudável! As nossas sensações ao comermos algo, nosso paladar afetivo, nossas lembranças de reuniões familiares permeando a comida também são aspectos positivos de práticas alimentares saudáveis. O Guia Alimentar para a População Brasileira lançado pelo Ministério da Saúde em 2014, nos relembra que alimentação saudável é mais do que ingerir nutrientes: é também com quem comemos, a atenção que damos ao ato de preparar e comer a comida, o ambiente em que fazemos as refeições e a escolha dos alimentos que "conversam" com nossa cultura. 
Por isso, a partir do momento em que passamos a resgatar receitas familiares, em que nos arriscamos na cozinha para testar novas receitas, automaticamente estamos nos atentando mais para a nossa alimentação, para a qualidade dela, e dando mais ênfase à preparações caseiras, familiares e culturalmente e ambientalmente sustentáveis. Esse pode ser, quem sabe, o primeiro passo de um caminho rumo à uma alimentação mais consciente e afetiva!
Nesse sentido, acredito que a pandemia têm contribuído para a emancipação culinária, para o (re)descobrimento de habilidades culinárias e prazer em cozinhar e consumir uma preparação que você mesmo fez, práticas essas que fortalecem nossa identidade cultural e escolhas alimentares mais saudáveis!
Foto: Minha família reunida em 2019 para fazer pamonha!

Referências:
MINISTÉRIO DA SAÚDE: Guia Alimentar para População Brasileira. Brasília – DF, 2014.
Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
- Castro IRR, Souza TSN, Maldonado LA, Caniné ES, Rotenberg S, Gugelmin SA. A culinária na promoção da alimentação saudável: delineamento e experimentação de método educativo dirigido a adolescentes e a profissionais das redes de saúde e de educação. Rev. Nutr., Campinas, 20(6):571-588, nov./dez., 2007. 

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